A discussão sobre o negro na televisão é ampla. Estudos acadêmicos e pesquisas apontam sempre para a descriminação racial. A telenovela, principal meio de entretenimento na tevê, está implicada na reprodução de representações que perpetuam diversos matizes de desigualdade e discriminação. Há o que chama-se de negação multiracial do Brasil. O país, constituído de 44% de negros na população, vive a estética do branqueamento, elemento inconsciente da cultura brasileira, que no começo do século chegou a ser política de governo. "Branquear o povo" foi meta até 1940.
Na história da telenovela brasileira, o afro-descendente ocupa papéis secundários, sub-tramas, e raramente representa o protagonista. Hoje, esse cenário começa a mudar. O ator Lázaro Ramos e a atriz Taís Araújo já viveram protagonistas em tramas globais. Um parêntese: ambos vivendo personagens pobres. O que não deixa de ser um avanço, em 1969, por exemplo, a Rede Globo escolheu um branco de nariz afilado para viver um pai de santo na telenovela A Cabana do Pai Tomás.
No ar, Duas Caras surpreende pelo número de personagens negros no ar, numa trama que não é um épico. Mas há quem aponte na trama de Aguinaldo Silva todos os elementos que reforçam o estereótipo racial. Os negros são pobres, empregados e negadores da própria raça. Espelho da realidade? Pesquisas comprovam que o negro brasileiro é majoritariamente pobre, mas o País é multiracial e a representação do negro sempre como classe inferior é discriminação racial e social, como defendem alguns pesquisadores da temática. Fernando Quintela, representante da entidade Juventude Negra do PDT, diz que sente falta de mais negros na tevê. "Não vou julgar determinado autor como racista, mas há uma rejeição em colocarem atores negros em papéis de classe superiores". Numa das cenas de Duas Caras, o personagem de Stênio Garcia, Barretão, expõe todo seu preconceito contra Evilásio (Lázaro Ramos) que é convidado para jantar pela filha branca. Cheia de exageros, a cena, ainda nos primeiros capítulos da novela, resume o tom que norteia os diálogos e histórias da trama. Um dos personagens, um branco, presente no jantar vai defender Evilásio e parte para uma explanação medíocre e desconcertante de que os negros contribuíram muito para a história do Brasil, "com exemplos na música, na culinária e nos esportes". A maior vergonha dos demais presentes era sobre como aquele show de preconceito faria mal à imagem de advogado bem-sucedido, Barretão. Se a idéia do autor era levantar uma real discussão sobre preconceito racial, só serviu para reforçar estereótipos.
Existe ainda a empregada doméstica, uma negra sensual, que vive entre as investidas do filho do patrão e a recusa do moço branco e rico em assumi-la como sua mulher. A mãe do rapaz, vivida pela atriz Marília Pêra, justifica com preocupação o interesse do filho como "uma grande queda por afro-descendentes". Aguinaldo Silva já anunciou que vai amenizar a imagem de mulata destruidoras de lares e Barretinho (Dudu Azevedo) vai pedir Sabrina (Cris Viana) em casamento. A escrava Isaura, da literatura do século XIX, foi descrita por Bernardo Guimarães como branca para fugir da imagem de mulata sensual destruidora de lares e fazer uma crítica real à escravidão, no entanto, quando o romance foi adaptado para a teledramaturgia, Herval Rossano, optou por levar a mesma escrava branca.
O racista Barretão encanta-se com a beleza da condessa, vivida por Adriana Alves. Quando, em Duas Caras, acredita-se que o papel do negro não está rodeado de estereótipos a história de vida da condessa denuncia o contrário. Brasileira, a condessa ganhou o título depois de se casar com um italiano milionário e ir morar na Europa. Alguém reconhece o conto de fadas?
Na favela Portelinha mais contradição. Sheron Menezes interpreta Solange que não gosta de ser negra, faz chapinha nos cabelos e sonha em viver num condomínio na Barra da Tijuca. Entre uma declaração racista e outra, Solange vai conquistando a simpatia do público ao se apaixonar por um personagem favelado.
As questões de Duas Caras e o papel e representação do negro na telenovela vão além. Fernando Quintela aponta, "Nunca se viu na televisão um branco, ou uma loira trablhar e servir um negro rico. É racismo". Importante é destacar que a telenovela tem papel na construção de uma identidade brasileira e a imagem do negro, como é representada, contribui de forma a reforçar os elementos de branqueamento da população em detrimento de uma valorização de País multiracial que somos.
Na história da telenovela brasileira, o afro-descendente ocupa papéis secundários, sub-tramas, e raramente representa o protagonista. Hoje, esse cenário começa a mudar. O ator Lázaro Ramos e a atriz Taís Araújo já viveram protagonistas em tramas globais. Um parêntese: ambos vivendo personagens pobres. O que não deixa de ser um avanço, em 1969, por exemplo, a Rede Globo escolheu um branco de nariz afilado para viver um pai de santo na telenovela A Cabana do Pai Tomás.
No ar, Duas Caras surpreende pelo número de personagens negros no ar, numa trama que não é um épico. Mas há quem aponte na trama de Aguinaldo Silva todos os elementos que reforçam o estereótipo racial. Os negros são pobres, empregados e negadores da própria raça. Espelho da realidade? Pesquisas comprovam que o negro brasileiro é majoritariamente pobre, mas o País é multiracial e a representação do negro sempre como classe inferior é discriminação racial e social, como defendem alguns pesquisadores da temática. Fernando Quintela, representante da entidade Juventude Negra do PDT, diz que sente falta de mais negros na tevê. "Não vou julgar determinado autor como racista, mas há uma rejeição em colocarem atores negros em papéis de classe superiores". Numa das cenas de Duas Caras, o personagem de Stênio Garcia, Barretão, expõe todo seu preconceito contra Evilásio (Lázaro Ramos) que é convidado para jantar pela filha branca. Cheia de exageros, a cena, ainda nos primeiros capítulos da novela, resume o tom que norteia os diálogos e histórias da trama. Um dos personagens, um branco, presente no jantar vai defender Evilásio e parte para uma explanação medíocre e desconcertante de que os negros contribuíram muito para a história do Brasil, "com exemplos na música, na culinária e nos esportes". A maior vergonha dos demais presentes era sobre como aquele show de preconceito faria mal à imagem de advogado bem-sucedido, Barretão. Se a idéia do autor era levantar uma real discussão sobre preconceito racial, só serviu para reforçar estereótipos.
Existe ainda a empregada doméstica, uma negra sensual, que vive entre as investidas do filho do patrão e a recusa do moço branco e rico em assumi-la como sua mulher. A mãe do rapaz, vivida pela atriz Marília Pêra, justifica com preocupação o interesse do filho como "uma grande queda por afro-descendentes". Aguinaldo Silva já anunciou que vai amenizar a imagem de mulata destruidoras de lares e Barretinho (Dudu Azevedo) vai pedir Sabrina (Cris Viana) em casamento. A escrava Isaura, da literatura do século XIX, foi descrita por Bernardo Guimarães como branca para fugir da imagem de mulata sensual destruidora de lares e fazer uma crítica real à escravidão, no entanto, quando o romance foi adaptado para a teledramaturgia, Herval Rossano, optou por levar a mesma escrava branca.
O racista Barretão encanta-se com a beleza da condessa, vivida por Adriana Alves. Quando, em Duas Caras, acredita-se que o papel do negro não está rodeado de estereótipos a história de vida da condessa denuncia o contrário. Brasileira, a condessa ganhou o título depois de se casar com um italiano milionário e ir morar na Europa. Alguém reconhece o conto de fadas?
Na favela Portelinha mais contradição. Sheron Menezes interpreta Solange que não gosta de ser negra, faz chapinha nos cabelos e sonha em viver num condomínio na Barra da Tijuca. Entre uma declaração racista e outra, Solange vai conquistando a simpatia do público ao se apaixonar por um personagem favelado.
As questões de Duas Caras e o papel e representação do negro na telenovela vão além. Fernando Quintela aponta, "Nunca se viu na televisão um branco, ou uma loira trablhar e servir um negro rico. É racismo". Importante é destacar que a telenovela tem papel na construção de uma identidade brasileira e a imagem do negro, como é representada, contribui de forma a reforçar os elementos de branqueamento da população em detrimento de uma valorização de País multiracial que somos.
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